quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ahmed Ben Kassin (4)





Efémero

A minha amada estendeu-me a mão esquerda,
E ofereceu-me um pedaço de Sol
Como se fosse a sua própria alma.
O resto do Sol chegava ao ocaso.
Eu pensei: “Como vai ser breve, este momento!”
Mas aquele dia não anoiteceu ainda.


Orvalho

A minha amada é bela como as rosas orvalhadas,
E tem a pele mais suave que as suas pétalas.

Oh, como estou longe agora da minha amada!
Não posso ver a luz nos seus olhos
Nem sentir a maciez do seu corpo.

O orvalho nas rosas são lágrimas.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ahmed Ben Kassin (3)



A minha amada

Quando penso na minha amada:

Os seios da minha amada são como duas romãs maduras;
O seu cabelo tem perfume de alfazema;
Os seus lábios são da cor do açafrão
E a sua boca tem o sabor do damasco;
Os seus olhos são como pedras preciosas
E a sua pele como o oiro da mesquita de Abd-Al-Rahman.

Quando surge a minha amada:

A visão da minha amada é a minha alegria;
As formas do seu corpo, a minha delícia;
O seu amor, a minha felicidade.

Quando estou junto da minha amada:

Nada é comparável à minha amada.

No jardim

A minha amada cantava
Entre as flores do seu horto.
Vinha no canto o perfume dos goivos e do jasmim,
A sua voz trazia a fragrância das rosas e dos cravos.
Parei a escutá-la,
Sem saber se deveria abreviar-lhe o canto,
Correndo para os seus braços,
Ou se melhor seria continuar ouvindo
A música do Paraíso.
Demorei-me um breve instante apenas,
E, quando entrei no jardim,
Ela, triste, perguntou-me
Por que tardara tanto.


Como é breve a vida!

A minha amada
Faz-me a vida mais curta.
Junto dela,
Todo o tempo é breve.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Ahmed Ben Kassin (2)



Origem da fotografia: ImageShack


Nos jardins do Generalife

Como são tristes as rosas do Generalife!
Não têm o perfume da minha amada,
Como são tristes as rosas!
Como são inúteis as suas fontes!
Não bebe nelas a boca da minha amada,
Como são inúteis as fontes!
Como é turva a água nos seus jardins!
Porque não se banha nelas a minha amada,
Como é turva a água!
Como é nítido o sol nas suas flores!
Porque não passeia entre elas a minha amada,
Como é nítido o sol!
Como é mudo o silêncio dentro dos seus muros!
Porque não se ouve a voz da minha amada,
Como é mudo o silêncio!


No vale do Wadi-As

Durante a noite os anjos tinham polido
As neves de Sulayr,
Que brilhavam sob o sol do meio-dia.
O espelho das águas do degelo viajava no Wadi-As
A caminho do mar.
Uma borboleta amarela poisou brevemente 
No ombro da minha amada.
Ela exclamou: “Como tudo é belo!”
Eu disse: “Quero que vejas toda a beleza do mundo.”
Sorrindo, respondeu-me:
“Ainda que vivesse mil anos, não poderia.”
Mas eu apenas lhe pedi: “Contempla-te no rio.”

(Wadi-As - actulmente Guadix, nome derivado daquele.)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Ahmed Ben Kassin (1)

Granada - A Alhambra (fonte LookLex)

As rosas de Granada

Eu choro as rosas de Granada.
O seu perfume fluía pelas congostas,
Subia até às neves de Yabal Sulayr,
E só se detinha no jardim da minha amada.
Perto dela nenhuma flor abria,
Porque ela era pétala e perfume,
Vida, ar e luz.
Quantas vezes hei-de chorar-te, Granada?
Diz-me quantas,
E eu saberei quantas noites viverei ainda.

(Yabal Sulayr – Serra Nevada)

No oásis de Wadi-As

A minha amada descansava debaixo da tamareira grande,
Quando o Sol a cobria de sombra na luz vertical do meio-dia.
Todas as aves conheciam o caminho perfumado pelos seus pés
E alimentavam-se da fragrância que, descalços, eles deixavam na passagem.
Depois partiam para o Norte sem mais alimento do que esse etéreo, 
Improvável odor a rosas de Andaluzia guardado na memória das suas passadas.

No oásis de Wadi-As,
Onde a chuva a dissolveu de mim.

Odeio a chuva

Todos se alegram quando a chuva chega,
Mas eu odeio-a porque muito amo.
Só na refulgência do sol é possível a miragem,
E só na miragem surge o oásis de Wadi-As.
É então que a minha amada caminha entre as tamareiras
E descansa à sombra da mais alta.
Sei que ela não é mais que essa miragem,
Que não há tamareiras em Wadi-As,
Mas, a quem não resta mais que ser enganado,
Até a mais falsa das miragens o conforta.
Quando a chuva chega, 
Devolve a minha amada à terra de seus pais.

(Wadi-As – Guadix, na província de Granada.)

Poemas de Ahmed Ben Kassin, poeta árabe nascido em Granada cerca de 1470, e que acompanhou o rei Boabdil quando este foi expulso da cidade.