Granada - A Alhambra (fonte LookLex)
As rosas de Granada
Eu choro as rosas de Granada.
O seu perfume fluía pelas congostas,
Subia até às neves de Yabal Sulayr,
E só se detinha no jardim da minha amada.
Perto dela nenhuma flor abria,
Porque ela era pétala e perfume,
Vida, ar e luz.
Quantas vezes hei-de chorar-te, Granada?
Diz-me quantas,
E eu saberei quantas noites viverei ainda.
(Yabal Sulayr – Serra Nevada)
No oásis de Wadi-As
A minha amada descansava debaixo da tamareira grande,
Quando o Sol a cobria de sombra na luz vertical do meio-dia.
Todas as aves conheciam o caminho perfumado pelos seus pés
E alimentavam-se da fragrância que, descalços, eles deixavam na passagem.
Depois partiam para o Norte sem mais alimento do que esse etéreo,
Improvável odor a rosas de Andaluzia guardado na memória das suas passadas.
No oásis de Wadi-As,
Onde a chuva a dissolveu de mim.
Odeio a chuva
Todos se alegram quando a chuva chega,
Mas eu odeio-a porque muito amo.
Só na refulgência do sol é possível a miragem,
E só na miragem surge o oásis de Wadi-As.
É então que a minha amada caminha entre as tamareiras
E descansa à sombra da mais alta.
Sei que ela não é mais que essa miragem,
Que não há tamareiras em Wadi-As,
Mas, a quem não resta mais que ser enganado,
Até a mais falsa das miragens o conforta.
Quando a chuva chega,
Devolve a minha amada à terra de seus pais.
(Wadi-As – Guadix, na província de Granada.)
Poemas de Ahmed Ben Kassin, poeta árabe nascido em Granada cerca de 1470, e que acompanhou o rei Boabdil quando este foi expulso da cidade.
10 comentários:
Oh beleza tamanha!
Benditos sejais,Poetas!
Há na poesia árabe um aroma de laranjeira e um tempo que, suspenso, me comove. Diz da sabedoria de milenar eloquência, da contemplação dos longos horizontes e do pôr-do-sol lânguido.
O deserto é constante metamorfose, e as palavras fluem em melodioso canto como o sussurrar das areias móveis.
Eduarda e Teresa
Obrigado pela visita e pelos comentários.
Já expliquei à Eduarda em mensagem particular a origem destes poemas. Se a Teresa tiver curiosidade imediata, pode enviar uma mensagem para o meu correio electrónico (deixo-o abaixo), e eu revelá-la-ei já.
Muito bonito o seu comentário. De um lirismo digno da melhor poesia árabe.
Abraços.
Daniel
Teresa, desculpe. Esqueci-me de deixar o endereço electrónico. Ei-lo:
daniel.de.sa@sapo.pt
Aqui o historiador da Batalha, Travaços Santos, tem-me falado desse Ahmed Ben Kassin. Notável.
Ó meu caríssimo Paulo, e eu que tinha a presunção de ser o único o mundo que conhecia os poemas de Ahmed Ben Kassin! Afinal, esse sábio que é o Travaços Santos já o conhecia!
Olhe, dê-lhe um abraço, quando o vir.
Outro para si.
Daniel
8)
:) em nome cumplicidade poética, aguardo por mais.
E conte comigo para outros dissertares :)
um abraço
São quase quatro horas da manhã.Antes de fechar o computador resovi espreitar o teu espólio.Já tinha lido no mail que me enviaste, mas nesta hora de silêncio, a transparência das palavras é mais propícia à meditação.É tão profundo este lamento que mais parece um pranto incontido de luminosidade poética.
Este é um espaço que nunca deixarei de visitar e que aconselho a quem sabe e aprecia o sabor das palavras.
Teresa Mar e MaE eu fico à espera de tão agradável visita, agradecido à querida amiga comum que lhe indicou este caminho.
Ó bela Ibel, como são confortáveis as tuas palavras, de um lirismo sentido e que nos toca bem na alma!
Um par de abraços.
Daniel
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