Estratos geológicos (fotografia encontrada em Nuno Correia - Geologia)
(Muitos dos nossos cês atingiram o prazo de validade. No entanto, ainda é permitido usá-los enquanto nos causar arrepios ver muitas palavras despidas deles. Por isso deixo aqui uma pequena lição que dediquei à minha amiga Lélia Nunes, que, como brasileira, nunca entendeu a trapalhada dos nossos cês.)
Nós por cá, em Portugal,
Temos cês muito discretos.
E quem não quer amar mal
Tem de pô-los nos afectos.
É que esta questão dos cês
Não se faz assim à toa.
Tem razões e tem porquês,
Não é moda de Lisboa.
Eu não ato nem desato?
Pois então vamos em frente,
Que uma peça de um só acto
Não cativa muita gente.
Vou dar exemplos seguidos,
E bem deves ter notado,
Nos muitos livros já lidos
Como é o cê bem usado.
Se eu cato, ando a catar,
Mas se planto, planto um cacto.
E às vezes, para ir rezar,
Não visto um terno, é um fato.
Um pacto é um contrato.
E em opíparo jantar,
Pouco há melhor do que pato
Com arroz, depois de assar.
Um estrato é Geologia
Ou situação social.
Mas com xis e cê daria
Para saber se anda mal
A minha conta bancária.
Estes nossos cês correctos,
E de utilidade vária,
São calados, circunspectos.
Como não se nota a ausência,
Há quem se esqueça de usá-los,
Mas com alguma experiência
Sabe-se onde colocá-los.
Cateto tem? Vês que não.
Mas têm recto e compacto.
Vais aprendendo a lição?
Se não vais, já me retracto.
Mas nestas há quem os diga,
Dou o dito por não dito.
Que a nossa lição prossiga.
Se aborreço, estou contrito.
Um bom corrector corrige,
Um corretor faz dinheiro.
E, quando o mau tempo aflige,
Bom tecto é bom companheiro.
E digo-te, a concluir,
E como amigo dilecto,
Que nunca deixes cair
O cê que segura o tecto
Nós por cá, em Portugal,
Temos cês muito discretos.
E quem não quer amar mal
Tem de pô-los nos afectos.
É que esta questão dos cês
Não se faz assim à toa.
Tem razões e tem porquês,
Não é moda de Lisboa.
Eu não ato nem desato?
Pois então vamos em frente,
Que uma peça de um só acto
Não cativa muita gente.
Vou dar exemplos seguidos,
E bem deves ter notado,
Nos muitos livros já lidos
Como é o cê bem usado.
Se eu cato, ando a catar,
Mas se planto, planto um cacto.
E às vezes, para ir rezar,
Não visto um terno, é um fato.
Um pacto é um contrato.
E em opíparo jantar,
Pouco há melhor do que pato
Com arroz, depois de assar.
Um estrato é Geologia
Ou situação social.
Mas com xis e cê daria
Para saber se anda mal
A minha conta bancária.
Estes nossos cês correctos,
E de utilidade vária,
São calados, circunspectos.
Como não se nota a ausência,
Há quem se esqueça de usá-los,
Mas com alguma experiência
Sabe-se onde colocá-los.
Cateto tem? Vês que não.
Mas têm recto e compacto.
Vais aprendendo a lição?
Se não vais, já me retracto.
Mas nestas há quem os diga,
Dou o dito por não dito.
Que a nossa lição prossiga.
Se aborreço, estou contrito.
Um bom corrector corrige,
Um corretor faz dinheiro.
E, quando o mau tempo aflige,
Bom tecto é bom companheiro.
E digo-te, a concluir,
E como amigo dilecto,
Que nunca deixes cair
O cê que segura o tecto
24 comentários:
E em verdade vos digo:
Estes são os cês...
E que bem que estes cês foram apresentados!!!
Ai, como havemos de nos habituar?
Eu hei-de, desculpa, eu "hei de" chegar lá... (este "hei de" intica-me com os nervos. Será que intica-me é intica me???? Ai, ai...)
Contra FACTOS não há argumentos.
Cara Mar de Bem, habitue-se quem quizer, ou então, quem a isso for obrigado...
Custa, porque se eu quiser escrever bem, lá terei de seguir novas regras. E estas não são tão lógicas como as que vamos deixar. É isso, custa!
Daniel!!!!!
Que Espectáculo!!!!
Na Segunda-feira já tenho matéria para tratar.
Uns dizem"arranja-me um emprego".Eu digo"arranja-me lá desses cês",se de fato não precisas.
Deu para entender?
Cara Mar de Bem, para se escrever bem, não são precisas as novas regras, é preciso é o talento que já percebi que o tem, quanto ao resto, a lógica aqui, é mesmo uma batata...
Como estou sem computador, raramente vejo os blogs e, por isso comento mui tardiamente...
Já agora, JV, gostaria da sua opinião sobre o comentário que fiz ao post "A Janela" (3 posts abaixo). É que aquela foto fez despoletar em mim alguma inquietude. (Inquietação, não, porque não houve razão para tanto)
... e eu, que sou vaidosa, gosto de partilhar as coisas que me comovem.
Um abraço
Margarida
Mar de Bem
Até eu fiquei comovida com o teu comentário.
Beijo
Daniel,
Uma vez mais fiquei encantada. Não só por esta maravilhosa lição de português em formato de quadras, mas também por concluir que partilhas de minha opinião: a língua portuguesa, tal como a falamos e escrevemos deveria ser preservada, já que a par com o nosso território, a nossa bandeira e outros símbolos, representa a identidade do nosso país.
Que os brasileiros ou outros povos ditos Palop falem e escrevam com alguma divergência da língua portuguesa, concordo... são dialectos oriundos do português, que sofreram alterações no seu território, ao longo dos tempos, com a mistura de outras línguas ou dialectos, pelo menos assim aprendi nas minhas já longínquas aulas de português e de literatura portuguesa... Enfim... parece que as opiniões de muitos portugueses foram mudando com os tempos, o que muito me entristece.
Quero saudar-te uma vez mais,e agradecer-te pelos teus textos, sempre tão simples e tão ricos, que nos ensinam tanto e nos dão tanto prazer em lê-los.
Esta lição de português é uma autêntica delícia.
Peço desculpa por aguma incorrecção na minha escrita, algum possível erro na ortografia ou até na acentuação das palavras...os erros ortográficos não serão propositados. Os erros na acentuação esses, se o forem, são propositados porque me recuso a entrar nesta nova moda de escrever "sem sal".
Um beijo com muita amizade.
Isabel
Perfect! :-)
Abraço.
Ó gente amiga, pelos vistos andamos todos agarrados à nossa língua com amor verdadeiro. Custa-me ver como o português de Camões e de Gil Vicente está cada vez mais longe. Custa-me sobretudo ver que se mude o sentido das palavras para servir interesses ou susceptibilidades do momento. São os casos, por exemplo, de se chamar "género" (termo reservado à gramática) ao que sempre foi sexo, ou "casamento" a uma união entre pessoas do mesmo sexo. (Não estou contra tais uniões nem contrea os direitos que podem ser obtidos por elas, mas apenas no que se refere à palavra.)
Mar, que volte por Bem o computador.
Abraços.
Daniel
«Que bela esta janela!»
Cara, Mar de Bem,
diria que o seu comentário, resulta numa intertextualidade perfeita, do texto e da foto, recriando os mesmos num síntese que só poderá estar ao nível dos artistas.
É a sensibilidade requintada, revelada neste e noutros comentários, que me fazem impressão, que alguém assim, se preocupe em ter de agir segundo um qualquer decreto de lei, que não nos pode verdadeiramente impedir de agir na nossa maneira genuína de nos expressarmos.
Bem pior para aqueles, que por desígnio da suas profissões a isto vão ser obrigados, como por exemplo os professores. Os outros terão sempre a oportunidade, o direito e o gozo de «transgredir», ou não, essencialmente não se transgredindo.
Acordo Ortográfico?
Que é isso?
Existe?
Existirá?
Onde?
A que propósito?
Não conheço.
Não quero conhecer.
Não vou conhecer.
Garanto.
Meu caro Daniel
Já nada me surpreende em ti
Uma verdadeira lição de Português
Numa forma tão bonita
uma simples questão de cês
um conjunto de porquês
para quê tornar o português
numa coisa tão deslambida
Luis Candeias
Daniel, estou contigo nos "cês" do teu poema e também de sobrolho franzido no que respeito ao sigificado e clareza das palavras. Será que "conselho" e "concelho" se passarão a escrever da mesma maneira? E "coser" e "cozer"? E "maça" e "massa"? Etc., etc.. Perde-se o sentido, o sigificado das palavras, como já hoje sucede no Brasil com algumas expressões coloquiais portuguesas que não siginificam absolutamente nada, porque foram dispensadas as palavras chave que lhes davam sentido, entendimento.
Mas, apenas para evitar cair num radicalismo perante a mudança, quero no entanto recordar que a nossa actual grafia não tem sequerv um século. Terá uns 70 ou 80 anos... E que a anterior não era facilmente assimilável à tal do Luís de Camões ou do Gil Vicente... a qual nessa época se aproximava mais da língua da vizinha Castela, não é?
Caro JV:
Eu fui arquitecta e o desenho, a minha escrita, tinha que ser rigoroso.
Sabe que se eu não tiver preocupações a nível de algumas regras, que nos interessam para reconhecimento dos nossos parceiros, seria a desbunda total, porque a minha cabeça é completamente doida?
É por isso que tenho de escrever bem, como tenho que ter boas maneiras, etc, etc, para equilibrar a minha cabeça à solta que, essa, ninguém pode domar!!!
Zé Augusto:
Desde o tempo de escola já tivemos algumas alterações que acatamos ( o acento faz aqui falta) inexplicavelmente (também aqui), mas temos que ir com os Tempos porque a nossa língua é viva! Tá bom, não está certo, mas consola dizer...
Há coisas neste Acordo que eu não aceito e, nestas, estou contigo, Zé Augusto!!!
Beijos e abraços, para quem quiser e apreciar.
Caro Jorge Conceição,
A Língua é um processo em constante evolução e vai evoluindo diferentemente segundo os contextos em que está inserida,reflectindo-os naquilo que eles tem de mais genuíno e verdadeiro, diferenciando-os, dando-lhes uma identidade própria e é nessa diferença que se torna numa mais valia.
É por isso que o Português actual, é diferente daquele de outros tempos e de outros locais, porque assimilou particularidades que o tornaram, obviamente, diferente neste processo evolutivo.A língua que se irá falar daqui a cem anos será concerteza diferente daquela que hoje falamos.
Só que tudo isto se processa naturalmente e nunca o poderá ser por um decreto que pretende unificar algo que é tão naturalmente diferente, descaracterizando desnecessáriamente a verdadeira identidade daquilo que somos hoje.
Caro jv: Eu acho que este acordo ortográfico é pior que o que foi tentado em 1986 e que algumas das medidas adoptadas descaracterizam a língua, tal como a conhecemos escrita (que falada ela não sofrerá alterações de imediato).
Quero, no entanto referir o seguinte, sobre o modo como as alterações ortográficas foram introduzidas na nossa escrita: ao contrário do que referiu, as alterações ortográficas nos últimos 100 anos foram-no, entre nós, sempre introduzidas por documento legal. Quase sempre por Portaria, mas também por Decreto.
A maior alteração ortográfica (bem mais profunda que a actual e que até introduziu os acentos nas sílabas, que eram até então quase inexistentes), foi a de 1911, pela Portaria de 1 de Setembro. Seguiram-se-lhe as adaptações introduzidas pelas Portarias de 19.11.1920, de 23.09.1929 e 27.05.1931. Depois veio outra grande alteração ortográfica, aqui já num acordo ortográfico luso-brasileiro (que chegou a eliminar algumas das alterações introduzidas pelas Portarias de 1911 e de 1931), publicado (unilateralmente por Portugal) pelo Decreto nº 35.228, de 8 de Dezembro de 1945. Etc.. Ou seja, a "oficialização" da ortografia adoptada tem sido A PRÁTICA desde que houve a implantação da República.
Caro Jorge Conceição, é correcto aquilo que diz, as alterações ortográficas, dentro duma certa razoabilidade, sem grandes polémicas foram pontualmente introduzidas por portarias.
O que agora se pretende é que deixemos de falar portugês e se passe a falar brasileiro e vice versa, em nome da tal unificação da língua,(os restantes países dos Palop, pouco contam neste processo), como se isso não fosse um absurdo incompreensível. Eu leio brasileiro e nunca me senti incomodado com isto e nunca vi nisto uma divisão, mas sim como uma justificada diferenciação de dois países que tem muito em comum mas que são diferentes e a língua contribuí para uma afirmação positiva na diferenciação das suas identidades.
O ridículo disto tudo,foi neste processo, cada país tentar impor ao outro,esta ou aquela modificação, num verdadeiro jogo de forças e de poder e cada qual querer sair com mais vitórias da contenda, subvertendo claramente a funcionalidade das suas
línguas.
Para mim isto é doloroso e faz parte da ditadura de mediocridade geral, em que cada vez mais nos afundamos.
De certeza que não vai ser este decreto que me vai por a escrever como eles pretendem, mas há outros que não terão outro remédio, inclusive as gerações futuras que vão ser instruídas por muitos que não concordam minimamente com isto.
Já agora, para descontrair, vou contar um episódio, passado numa aula da terceira classe duma das minhas irmãs, precisamente quando um decreto veio alterar a pontuação das palavras terminadas em mente, que deixavam de ser pontuadas. A minha irmã a meio dum ano lectivo que tinha ensinado uma coisa, esforçava-se para fazer passar a idéia de que aquilo tinha ensinado,agora já não era assim, porque alguém assim determinara. Foi então que uma aluna, muita séria, lhe perguntou_
Sra professora,e os pontos nos is, ainda se colocam?
Eu sinceramente, preferia neste momento, deixar de por os pontos nos is.
Daniel,
Eu gosto de ver este Espólio assim animado.u não te disse que hoje esse teu texto ia fazer sucesso? Devias ouvir as leituras e o debate, seu artista!!!!
Meus amigos
Gosto de ter razão... E estes diálogos, vívidos e cultos, são uma prova disso mesmo. E, para culminar a minha satisfação, a Lia pôs isto nos ouvidos e nos olhos dos seus alunos!
Mar de Bem, sabes com quem jantei ontem? Com alguém que gostei muito, muito mesmo de conhecer pessoalmente. O teu primo, sim.
(Para quem não sabe: O Genuíno Madruga já deu duas voltas ao Mundo em solitário, sendo um dos únicos dez que passaram ao sul do Cabo Horn do Atlântico para o Pacífico.)
Abraços.
Daniel
Olha que bom, Daniel! Lembro-me dos vossos ares atarantados (salvo seja) quando te pus ao telefone com ele, logo após a chegada. Ele é um homem sem medo, forjado em tempestades e terramotos. Tem outra força!!!
Eu sabia que ele queria ver-te e o Fernando Ranha lá to levou, não foi? "Benzó Deus"!!!
Deve ter sido giro o jantar, dum HOMEM das LETRAS e um HOMEM do MAR. Bendita junção: dois seres superiores e tímidos (não aparentam, mas são!). Que ricas conversas tiveram vocês... Acreditas que fiquei invejosa?
Beijos salgados, apenas c'oa maresia!
Não sou quem julga que sou.Vim ter ao seu espólio através de um comentário que deixou num blog minhoto.E ainda bem que encontrei um espaço de leitura apetecível.Este seu texto tem um tom satírico extraordinário.
Margarida
Foi um belíssimo serão. Uma delícia, em que falou de tanta coisa, desde a recepção por Ramos Horta em Timor a pinguins curiosos na ilha de Horn.
António João
Com que então, do Minho?... Já sei a boa alma e grande talento que o trouxe aqui. (Pelo menos suponho que sei...)
Abraços.
Daniel
De fato não tenho fato para ir ao enterro da Língua Portuguesa. Só se fizermos um pato durante o jantar - que vai ser pato - e me emprestar de fato o seu fato. É que assim não ato nem desato e preocupa-me o fato de não poder ir ao ato de fato.
(que grande confusão, que raio de pato ortográfico!)
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