Imagine quem me lê que recebe, nos Açores, uma mensagem electrónica em que lhe são pedidos 42€ para levantar uma encomenda na alfândega do aeroporto Sá Carneiro. “Delete”, não é? Foi o que fiz, há uns meses, convencido de estar a ser aliciado para uma burla. Mas, no dia seguinte, o Francisco Cota Fagundes perguntou-me, dos EUA, se eu recebera o pacote. Foi então que a verdade caiu em mim. O meu amigo enviara-me cópia do original do seu novo livro para eu dar parecer e alinhavar prefácio. Voltei a receber notícias da alfândega e, logo depois, da FedEx, o transitário que se encarregara de fazer chegar a coisa a Portugal, mas como se se tratasse de outra Maia.
Resumo o enredo da rábula. Nos EUA pediram declaração do valor da encomenda, e a Deolinda, mulher do Cota Fagundes, que fora tratar do envio, arredondou em dólares o preço das fotocópias, e disse trinta. Para despesas da viagem, fizeram a senhora despender mais de oitenta. A alfândega, somando um valor e outro e dividindo mais ou menos por dois, encontrou a taxa que eu deveria pagar ao Estado. Quanto à FedEx, com delegação em Moreira da Maia, não me poria a encomenda nesta Maia micaelense sem o pagamento do envio de lá para cá.
Como era fácil substituir as fotocópias por outras, dei autorização para que fossem queimadas. O meu amigo mandou-as também para a fogueira. Mas não queimariam as folhinhas sem um de nós pagar os 42€. Entretanto, um funcionário americano da FedEx tentara convencer o Francisco Fagundes de que só há uma Maia em Portugal. E, pior do que isso, garantia-lhe que os Açores são uma região de Espanha! O meu amigo acrescentou esta história às outras do livro. E está muito satisfeito por ter assegurado a eternidade num pacote que jaz numa alfândega do Porto. Porque, enquanto um de nós não pagar os ditos euros, não o queimam.
P.S. – Quem vir por aí, daqui a uns meses, um livro chamado “A Lagoa dos Castores” e Outras Narrativas da Minha Diáspora, não perca a oportunidade de se deliciar com três dezenas de excelentes histórias.
13 comentários:
Mandassem por mail. Era de borla.
por mail era de borla, mas não dava post.
Os indigentes que dirigem "fedexes" e até alguns países, não deixam o mundo avançar tanto quando deveria... mas são belos mananciais para estórias como esta.
Anónimo
Tem toda a razão. Se quiser chame broncos ao Francisco Fagundes e a mim, mas o que acontece é que o meu amigo quis poupar-me a mais cansaço no computador. E ler um original em papel ainda é mais atractivo para um neanderthal da tecnologia como eu.
Samuel
Esse é um risco real. Vejo tanta gente absurdamente parda nos aparelhos partidários, mas tão persistente, que temo que alguns deles cheguem ao topo. E depois, por exmeplo, pensem que do Terreiro do Paço para baixo é o deserto.
Daniel
Podias presentear os teus leitores com um cheirinho de uma dessas histórias.Isso é que é sempre um pedacinho de ouro ....
Isabel
Olha que eu tinha pensado nisso. O pior é que estou demasiadoo ocupado por estes dias. Ver-se-á quando arranjo tempo.
Um abraço.
Daniel
Daniel, neanderthals é o que não faltam por aí e não me refiro só aos utilizadores das novas tecnologias, onde também marco passo. Refiro-me a muitos outros que por aí andam, como por exemplo os protagonistas do teu relato.
Maias há muitas, mas a nossa foi a primeira, pelo menos anterior à que vem mencionada no texto.
Ao menos menos vamo-nos divertindo com o ridículo desta situação e esperar com água na boca pelas outras...
um abraço.
José Fernando.
José Fernando
Tens razão no que dizes, nomeadamente quanto à precedência de Maia como nome de um povoado. Havia as Terras da Maia, daí a existência de Moreira da Maia ou Castelo da Maia, por exemplo. Castelo da Maia, com a freguesia de Barreiros, deu origem à vila da Maia, no início do século XX. Inês da Maia, que fundou a nossa, era provavelmente das Terras da Maia. E de lá seria, com certeza, João da Maia, pai de Catarina Fernandes, dita a Maia, de quem recebeu nome, quase pela mesma altura da nossa, a Maia de Santa Maria.
Olá Daniel,
Ficamos a imaginar o espólio da dita alfândega do Porto e as inúmeras histórias que encerra.
Beijinho
Mafalda e Francisca
Mafalda e Francisca
Aquela e outras alfândegas... Como as inimagináveis, mas reais, alfândegas que havia entre as ilhas, ainda que fossem do mesmo distrito, como era o caso de São Miguel e Santa Maria.
Beijinhos.
Daniel
A todos,votos de uma Páscoa Feliz!
De cá para lá, votos de Santa Páscoa.
Abraço, Daniel
E aqui estou de novo nas nossas ilhas, lendo esta estória estapafúrdia. Bonito serviço, sim senhor!!!
Lembro-me de há 40 anos meu Pai ter recebido uma carta do Canadá, cuja direcção era:
"Dr.Madruga
Lugar mais lindo do mundo
Ilha do Pico
Azores"
e a carta lá foi ter ao Cais do Mourato, Bandeiras, Madalena do Pico. Isto era no Tempo em que os Correios primavam pela obrigação de envidar todos os esforços para "entregar a carta...talvez a Garcia"!!!
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