quinta-feira, 28 de maio de 2009
Ilha a Ilha: Pico
sábado, 23 de maio de 2009
Ilha a Ilha: São Jorge
sábado, 16 de maio de 2009
A Fé e a Esperança. A Fé em Deus no culto do Senhor Santo Cristo no Santuário de Nossa Senhora da Esperança. Os olhos humanos precisam de reflexos divinos para se aproximarem do Infinito. Que podem ser as cores do ocaso ou as pétalas de uma flor. Ou uma bela imagem feita por mãos desconhecidas. Esta, por exemplo, que representa Jesus no momento em que Pilatos O apresentou à multidão. Por isso lhe chamam o “Ecce Homo”.
A primeira procissão do senhor Santo Cristo dos Milagres aconteceu quase de certeza numa 6ª-feira, dia onze de Abril de 1698. A data com mais frequência repetida, onze de Abril de 1700, é absolutamente improvável, porque esse dia foi Domingo de Páscoa. Além de se haver tratado de uma procissão de penitência, o que anula a hipótese de ter sido realizada em data tão festiva, atente-se no que a certa altura diz o padre José Clemente ao descrever o cortejo: “Em último lugar ia o pálio com o Santo Lenho, a que acompanhava uma tão numerosa multidão de povo, que os oficiais deixaram o trabalho, os mercadores as lojas e os forasteiros as vilas e lugares circunvizinhos.” Era impensável que houvesse alguém que se atrevesse a trabalhar em dia santificado. A obrigação do descanso dominical era absoluta, havendo até a imposição de ao menos uma pessoa em cada família assistir à missa do dia, sob pena de pagamento de 50 réis, como deixou expresso o Bispo D. Frei João dos Prazeres na sua visita à paróquia de Pedro Miguel, no Faial, em 1690.
Lamentação
“Os nossos pecados atraíram
o desprezo do Senhor sobre nós,
como um pastor que esquece os nomes das suas ovelhas
e não reconhece os balidos dos seus cordeiros.
A desolação esteve durante o dia nas nossas casas
e deitou-se, à noite, nas nossas camas.
O calor do fogo era como gelo para os nossos corpos,
e o mel mais amargo do que o fel nas nossas bocas.
Não desejávamos o dia, durante a noite,
porque todos os dias eram dias de sofrimento.
Temíamos o entardecer
porque cada noite era a noite do nosso pavor.”
Isto disseste do teu Deus
como se Ele tivesse empunhado a espada contra ti,
como se Ele te houvesse alvejado com as setas do ódio.
Mas, quando vires o Filho do Homem
erguido sobre a terra da desolação,
contarás um a um os seus gemidos
e uma a uma as gotas do seu sangue.
Saberás então que o Senhor habita contigo para sempre,
que aquele é o preço por que serás libertado.
Eu tomarei sobre Mim as tuas culpas
para que, por todo o sempre,
Deus não reclame nenhum dízimo de sangue.
O Senhor veio a ti de mãos vazias,
e lavará os pés, antes de serem trespassados,
para que nem sequer o pó dos teus caminhos
receba a afronta dos cravos do sacrifício.
(fotografias gentilmente cedidas pela editora Ver Açor)
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Ilha a Ilha: Graciosa
Não é uma miniatura de ilha, mas é quase. Com a beleza e a graça das miniaturas bem feitas. Provavelmente por isso a chamaram Graciosa. Mas há quem pense que o seu baptismo foi em honra da Virgem, a cheia de Graça. Qualquer que seja a verdade, merece o nome.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Ilha a Ilha: Terceira
(Angra do Heroísmo com o Monte Brasil ao fundo)
Na Terceira, onde em cerca de quatrocentos quilómetros quadrados vivem perto de cinquenta e seis mil pessoas (sem contar com os militares e outros funcionários americanos da Base das Lajes e suas famílias), o melhor da paisagem talvez seja o que foi feito pela sua gente. Os terceirenses têm o culto da cor e da alegria. A policromia dos seus povoados expressa um estado de espírito colectivo, uma exaltação sensível da vida que não se encontra em nenhuns outros açorianos.
Tendo sido a ilha mais teimosamente portuguesa, a que resistiu sozinha às pretensões de Filipe II ao trono de Portugal, acabou por ser a que mais beneficiou com o seu governo, chegando a parecer que um pouco da alma espanhola foi deixado nela.
A Terceira gosta de festas. E, acima de todas, gosta da “festa” – a brava, dos riscos do redondel ou do divertimento das touradas à corda.
A cidade de Angra, a partir da qual triunfou o liberalismo, mereceu, por causa disso, que o nome lhe fosse acrescentado com a designação “do Heroísmo”, como a então Vila da Praia passou a ser “da Vitória”, porque perto dela os liberais derrotaram os absolutistas na primeira grande batalha campal da Guerra Civil. A memória da sua importância na defesa da rota das Índias está bem viva ainda na fortificação filipina que era uma das mais formidáveis de todo o Atlântico. Dentro das suas muralhas, depois da proclamação de D. João IV, a guarnição espanhola resistiu aos portugueses durante um ano e, quando se rendeu, os vencedores prestaram homenagem aos vencidos. Gente fidalga, os terceirenses.
Em grande parte destruída pelo sismo de um de Janeiro de 1980, a Angra renascentista limpou as suas formosas ruas que se cruzam verticalmente, repôs as pedras de dezenas de edifícios, e recebeu da UNESCO, como reconhecimento da sua harmonia arquitectónica e em honra da História que ancorou no seu porto, a distinção de ser considerada Cidade Património Mundial. Mas toda a ilha é património da Humanidade.
(Do livro Açores, editado pela Everest. A editora não autoriza a transcrição.)
sexta-feira, 1 de maio de 2009
O Ram-Ram
Se fosse hoje, o Ram-Ram talvez não trabalhasse. Uma qualquer assistente social facilmente lhe concederia uma pensão de invalidez ou coisa parecida. Mas o Ram-Ram ganhava a vida honestamente como engraxador. Havia um professor que era um dos muitos que admiravam o seu talento desportivo. Por causa disso, não se atrevia a vê-lo ajoelhado a seus pés e tratava-o por Manuel. Mas entendia que não estava certo privá-lo do seu modo de ganhar dinheiro para o pão e alguma cerveja de vez em quando. Quando o encontrava convidava-o a acompanhá-lo à cervejaria. Ali ficavam ambos com os olhos à mesma altura. E o Ram-Ram exultava, anunciando aos circunstantes que o professor era seu amigo.
O professor não sabe se onde o Manuel está também se joga ping-pong. Mas sonha com um dia em que todos os homens tenham os olhos à mesma altura. Quer sejam engraxadores ou bancários, trolhas ou administradores. Um dia que não seja um dia de festa. Um dia que seja todos os dias.